Talvez ainda venhas

Talvez ainda venhas

Descanso as monotonias sufocadas na vidraça das janelas

Aprecio um burburinho manso que abraça as calçadas das ruelas

Passos estreitos pelo caminho deambulam por entre chuvas miudinhas

Ruas cansadas mergulham caladas no destino das rotinas

Nos vidros quebram-se os vapores com os sopros do coração

Avivam-se dores veladas nas artérias fluentes da emoção

Bafos quentes respiram amores guardados nos recantos do peito

Desencantos e desabafos são suspiros vertidos com a chuva no parapeito

Ao longe desfila uma acentuada neblina cinzenta

Talvez a estrada clandestina e molhada seja a causa da tua tormenta

Talvez ouças no ruído perdido pela rua a voz do meu desalento

Talvez o meu amor se faça ouvir no labirinto do teu pensamento

Talvez não tenha caído no abismo sonolento do esquecimento

Talvez ainda venhas numa chuva de estrelas com o brilho do sentimento

Luísa Rafael

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Porto, Portugal