QUANDO O PEITO EXPLODE

MEU PRIMEIRO INFARTO AGUDO

O infarto que sofri no dia seis de julho parecia reescrever em mim o crepúsculo dos meus pais, ambos vítimas de complicações cardíacas.

As reminiscências da experiência deles definia minha própria experiência que, quanto mais concreta e profunda, menos pessoal se apresentava a mim mesmo através do aperto no meu peito.

Meu primeiro infarto me ensinou a viver sem amanhã e indiferente ao hoje, certo de que qualquer existência é como fogos de artifício no céu duvidoso de qualquer lugar que não existe.

Afinal, a vida não passa de literatura mal feita,

de uma fabulação desprezível.

ONTEM QUASE MORRI DE ENFARTO

Ainda ontem

Quase morri de enfarto.

Por sorte,

no país ainda funcionam

Os hospitais públicos...

Apesar do Estado, dos governos,

Das curas e milagres que prometem as igrejas

Ao seu público,

Ainda se respira um pouco de saúde.

Ainda ontem

Quase morri de enfarto.

E já não sei direito

Como era estar vivo

Antes da dor no peito,

Da náusea e avesso de mundo,

Que me cuspiu da rotina.

AR

O ar que me falta

é o mesmo que me afoga,

Que nos oprime,

Quando há quem se diga

Dono do ar.

Deste mesmo ar

Que todos respiram.