Existência escura
Não poderia
morrer,
pois já nasci
sepultado em meus
ordenamentos
gerais de vida,
na extensão
histórica de minha
cor escura
melanina pura,
feridas eternas
sempre à mostra
tempo cíclico,
ainda não há cura.
Se houve algo,
sim, tô ciente,
gritos invadiram
o inconsciente,
alguém lá do fundo
chorou
não
não
clamou ajuda
não
não
uma Alma
mais real
de qualquer
outra
do mundo
sucumbiu
o vegetal
chorou
que vegetal
Hegel
do qual falas
vegetal
ou humano?
No decorrer
daqueles
dias,
minha
existência
carregaria
a cruz
semelhante
aquela
redentora
do homem,
porém aqui
o sentido
final não
é salvação
um possível
retorno
à condição
primeira
senhor
criatura
é cisão total
ruptura absoluta
crucificação
pública
uma cor
exposta
ao tribunal
da vida
cuja lei
é o dominador,
cujo advogado
é o dominador,
e a figura do réu:
abro as mãos
em silêncio
minha
pele
é
M
E
U
G
R
I
T
O
D
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L
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B
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R
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