ENCONTRO DAS ÁGUAS

a Gilson

De onde vem esse irmão

que o útero de minha mãe não me deu

mas que o sopro do vento me trouxe

de um bairro distante do meu?

Por que ruas andava aquele menino

e com que bolas ele jogava

em terrenos baldios diferentes dos meus?

Quantas tardes nos separavam

enquanto crescíamos no silêncio ruidoso

dos ossos que se dilatavam

no estender alongado das asas

dos nossos carentes sonhos infantis?

Foi do bater adiado das horas desencontradas

que aqueles dois solitários meninos

entrecruzaram suas saudades

e como dois rios irmanados

fluíram juntos a se verter

nos profundos líquidos das lembranças

do espaçoso mar de suas histórias

Se soubesse desde cedo

como é bom ter um irmão

atravessaria ligeiro a cidade

para no outro lado da tarde

com ele brincar por toda eternidade

O útero de minha mãe jamais me daria

um irmão, assim, tão inteiro

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 05/06/2022
Reeditado em 05/06/2022
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