ENCONTRO DAS ÁGUAS
a Gilson
De onde vem esse irmão
que o útero de minha mãe não me deu
mas que o sopro do vento me trouxe
de um bairro distante do meu?
Por que ruas andava aquele menino
e com que bolas ele jogava
em terrenos baldios diferentes dos meus?
Quantas tardes nos separavam
enquanto crescíamos no silêncio ruidoso
dos ossos que se dilatavam
no estender alongado das asas
dos nossos carentes sonhos infantis?
Foi do bater adiado das horas desencontradas
que aqueles dois solitários meninos
entrecruzaram suas saudades
e como dois rios irmanados
fluíram juntos a se verter
nos profundos líquidos das lembranças
do espaçoso mar de suas histórias
Se soubesse desde cedo
como é bom ter um irmão
atravessaria ligeiro a cidade
para no outro lado da tarde
com ele brincar por toda eternidade
O útero de minha mãe jamais me daria
um irmão, assim, tão inteiro