O REFÚGIO DO HIPÓCRITA

A hipocrisia se enceta na divergência

quando se discorda de uma verdade plena

e no instinto de preservação se ataca.

Seja dito que o verdadeiro é individual

e, por conta, o hipócrita não se aplaca

até que faça do falante um marginal

e se absolva no imaginário tribunal.

Sem regras que não a própria ofensa

mergulha em cheio na decadência,

quanto mais fundo mais esperneia

e faz da troça uma peta verdadeira,

porque para além dos fatos palpáveis

o enunciável já está e é exterior

ao princípio do sujeito enunciador,

constrói-se no antes e durante,

histórica e linguisticamente

no domínio da memória.

O já-dito tem raiz intermitente,

não se trata só do agora,

quando a ele se remete é só derrota,

não se escapa com negação,

é necessário o espelho de si

e não tem reflexo o hipócrita

ele está preso à própria resposta,

exilado no último refúgio: a ilusão

de sua missão augusta

que lhe justifica a postura infausta;

nada mais que um Sísifo.

Para Ciro Gomes

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 22/05/2022
Reeditado em 23/05/2022
Código do texto: T7521139
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