UM FIM DOS DIAS
Nu gesto em desespero ao vento
No caminho das pedras que choram –
Já é março, sepultemos sonhos
Após as novas do silêncio.
Esse sol despótico é temático,
O fundo opressivo.
O agora é um rei que se retira,
É o cinza e o silêncio do remorso.
Propomos a farsa conveniente
À vergonha em trono vazio –
Eis o cetro dum pobre monarca
Que não voltará.
Despedidas, velhas agendas
E o resíduo dos verões vencidos
No imprevisível chão de durar.
Somos como quem despertou
Há pouco e não sabe se ainda sonha
Na alheia manhã.
Ergueremos a voz, errantes
No louco itinerário da dor
Que nada sabe, que nada sabe...
Exceto o nosso nome gasto.
Inauguramos um fim dos dias
Sem paz ou orgulho.
Somos a sombra duma ideia
Que não serve mais, não serve mais...
Personagem ao qual falte enredo,
Esboço ou rasura imprestável.
Constrangidos? Impotentes? Vis?
Quase isso, se tanto.
Há pesadelos sempre à espreita
Em cada logradouro aturdido –
Todos os caminhos sem retorno...
Se o dia engendra despedidas
É nas deixas cretinas que vamos
Ferindo o destino.
Seremos nós sob os vitrais
Da grande catedral soberana?
Confessaremos nossa penúria
Ao sóbrio pardal diligente
Por esses atalhos esquecidos,
Por becos e praças.
Solidão de abismo, esperemos...
Temos um testemunho do mármore
Corroborando razões na dor.
Oh, destra a balbuciar encantos,
Torpe feiticeira entre os portentos
À luz que ainda resta.
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