É SÓ POESIA
Ainda que te mate nas poças
Das tuas vastidões de lágrimas
Pelos gritos sufocados dos anos
Imersos em sua pele enrugada,
Não temas o final da tarde.
É só poesia!
Só a poesia poderá nos salvar
De todas as barbáries criadas,
Nos últimos anos, desse vil abrigo
Que chamamos de pátria amada,
Para não enlouquecer o resto
De lucidez que ainda usufrui
De toda nossa agonia humana.
É só poesia!
E mesmo assim, não é só isso
Que tomamos todos os dias
Para que possamos reviver
Todas as nossas cicatrizes
Que abrem e deixam as chagas expostas.
É só poesia!
Pois não é só de poesia que se vive,
Mas quando se vive sem poesia
Nada mais poderá revelar em nós
Toda a vastidão incorruptível da alma,
Aberta nas linhas torpes das mãos,
E assim, de alguma forma, eu diria:
- É só poesia!