POESIA É COISA DE VAGABUNDO
senhoras e senhores apresento-lhes
sem banda de música da pm
sem desfile em caminhão de bombeiro
sem vinheta em rádio local
o indivíduo magro que faz muita poesia
e nenhuma concessão
um corpo que se embrulha atrás do coreto
eis o poeta em sua habitação
não faz letra de jingle para candidato
é em todas as verdades aquele cara
que não cabe em nenhum contrato
a poesia que concebe não faz louvor
não serve para ajudar nas vendas
não se encaixa na lei do comércio local
é uma poesia que não obedece a eucaristia
sem remendo para ser lida na quermesse
é uma poesia que não troca favor
não diz amém a quem cedo madruga
não é combo de nenhum buquê
é uma poesia que não dá match
com aquela foto de filtro para o instagram
é um poeta que não liga a mínima
moço de pouca proteína e nenhuma gola polo
não é homem de confiança do prefeito
não janta com seis talheres e cheesecake de sobremesa
é o cara que come em pé junto ao balcão
é um tipo gourmet de vagabundo
pelo menos é isso aos olhos do mundo
o que não sabem os patrões e seus analistas
é que o poeta faz pouco de toda essa cartilha
faz troça do patriarca de miolo duro e pau bambo
caga e anda para o aplicado investidor
que perde a vida e ganha ações na bolsa
definitivamente a poesia não serve a nada
é apenas o consolo do vagabundo
não é moeda que serve
aos interesses do mundo