Sapatos velhos

Fiz essa poesia sobre a pintura "O par de sapatos ", de Vincent Van Gogh:

Sapatos jogados num canto do quarto

gastos, puídos, velhos, furados, impróprios,

deixaram de cumprir o ofício próprio de sapatos.

Inertes, inúteis, disfuncionais

assistem pacientes a passagem do tempo.

Caminhantes -turistas inquietos- já não caminham mais...

Restam agora apenas felizes lembranças

dos caminhos percorridos

das pontes sobre os riachos

dos campos de trigos

das plantações de girassóis

das pequenas flores silvestres á margem da estrada

dos entardeceres coloridos no horizonte tal qual tela impressionista.

Agora sós,

agora abandonados,

agora largados

sentem saudades dos pés que calçaram,

das ruas de paralelepípedos irregulares,

das noites em Arles,

dos bares barulhentos,

dos bêbados e dos vagabundos,

das prostitutas perfumadas á espreita,

dos encontros para os quais levavam,

dos beijos nos encontros que proporcionavam,

das noites de amor que testemunharam aos pés da cama esperando.

Porém...

pela companhia nas andanças,

aventuras, amores -porque não dissabores-

foram imortalizados nas pinceladas icônicas e voluptuosas do artista

em justa homenagem e eterna gratidão.