Tiê-sangue

Tiê-sangue

Leva-me saíra, pela restinga

Sou também vermelha

e retirante como tu

Leva-me em teu vôo

seminal e retilíneo

pelos arquétipos da mata

Entre cantilenas de canindés

em cima do pau-d’arco

leva-me contigo, tiê-fogo

que também sou sangue

e tenho sede, muita sede

Cacimbas saciam securas

e entre tijucos e tucumãs

ouço um silvo reticente

Elevo-me sobre paturis

E em voo razante

sinuosa e arquejante

descubro mitos desvelados

no canto das rezadeiras.

Desvendo o fruto verde

dos imbés e dedenzeiras

sonhos rubros de tiê-sangue

no sangue tupi das benzedeiras

Marcia Tigani