Flores

Não gosto das flores de plástico,

nem de qualquer outro material imperecível,

pois não morrem.

Não é próprio das flores não morrerem,

flores hão de ser perecíveis

finitas

mortais

cíclicas.

Gosto das flores que morrem,

é o certo

o natural

o esperado.

Não morrer me assusta.

Há que germinar

que crescer

que abotoar

que desabrochar,

sem pressa,

há que desbotar

há que perder o viço,

então murchar

então morrer,

é necessário morrer,

outras flores virão,

novo ciclo recomeçará.

E tem o trabalho;

a flor é a recompensa por um trabalho.

Sem falar do perfume

do mel

das borboletas

das abelhas

dos colibris.

Mas as artificiais não,

elas ficam ali,

sem trabalho

sem vida

sem visitas

sem perfume

sem pressa

sem sementes

sem ciclo.

Estas

mudas

inertes

inanimadas

inodoras

cansativas.

Definitivamente,

não gosto das flores de plástico,

nem de qualquer outro material imperecível.