OS DOIS PILARES

No início a impulsividade

não me deixava antever

o que poderia acontecer.

Caí e levantei-me

vezes sem conta

com os joelhos

e as palmas das mãos

esfoladas.

Sentia-me desamparada

sem ninguém

para secar as minhas lágrimas

e untar as minhas feridas.

Escondia-me do mundo

para dar largas á minha dor

e ás vezes esquecia-me

onde eu me tinha escondido

e por lá ficava esquecida

até que a minha memória

me lembrava.

Comecei a congeminar a ideia

de construir um abrigo

dentro de mim.

Se porventura

precisasse esconder-me novamente,

Dentro de mim estaria segura.

O lugar escolhido, foi o coração.

Fiz o ninho entre os dois pilares,

o avôzinho e a avózinha.

Ficou um ninho fofo,

com penas de amor e dor,

orlado com azevinho

pontilhado

com bolinhas vermelhas

e até alguma flor branca.

Agora

sempre que a dor se avizinha

eu corro para o abrigo.

Nunca mais me senti sozinha.

Os meus dois pilares

cuidam de mim,

como quando era criança.

© Maria Dulce Leitao Reis

09/11/21

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 25/12/2021
Código do texto: T7414969
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.