OS DOIS PILARES
No início a impulsividade
não me deixava antever
o que poderia acontecer.
Caí e levantei-me
vezes sem conta
com os joelhos
e as palmas das mãos
esfoladas.
Sentia-me desamparada
sem ninguém
para secar as minhas lágrimas
e untar as minhas feridas.
Escondia-me do mundo
para dar largas á minha dor
e ás vezes esquecia-me
onde eu me tinha escondido
e por lá ficava esquecida
até que a minha memória
me lembrava.
Comecei a congeminar a ideia
de construir um abrigo
dentro de mim.
Se porventura
precisasse esconder-me novamente,
Dentro de mim estaria segura.
O lugar escolhido, foi o coração.
Fiz o ninho entre os dois pilares,
o avôzinho e a avózinha.
Ficou um ninho fofo,
com penas de amor e dor,
orlado com azevinho
pontilhado
com bolinhas vermelhas
e até alguma flor branca.
Agora
sempre que a dor se avizinha
eu corro para o abrigo.
Nunca mais me senti sozinha.
Os meus dois pilares
cuidam de mim,
como quando era criança.
© Maria Dulce Leitao Reis
09/11/21