CARA-METADE
Minha cara-metade tem sangue trêmulo,
alma tosca, é sofrível demais.
Seus passos titubeiam, sua voz arde,
seu gosto é escasso e opaco,
seus guizos desaprumam os meus.
Minha cara-metade é oca, maltrapilha,
revira meu estômago com seu suor,
até desanima o meu ar de viver.
Minha cara-metade descamba meus sonhos,
meus planos, meus adornos,
joga rédeas infinitas no meu querer-bem,
é bizarra a ponto de Deus quase pendurar suas chuteiras.
Mas, mesmo assim,
com tantas rebarbas, fuligens e poréns,
é nela que ancoro meus dias,
é com ela que acaricio minhas lágrimas,
é com ela que renovo minhas andanças por aqui.
Mas, mesmo assim,
estão só nela meus anjos mais anjos,
vem dela a mão que mais me acode,
é com ela que vou até não poder ir mais.