CARA-METADE

Minha cara-metade tem sangue trêmulo,

alma tosca, é sofrível demais.

 

Seus passos titubeiam, sua voz arde,

seu gosto é escasso e opaco,

seus guizos desaprumam os meus.

 

Minha cara-metade é oca, maltrapilha,

revira meu estômago com seu suor,

até desanima o meu ar de viver.

 

Minha cara-metade descamba meus sonhos,

meus planos, meus adornos,

joga rédeas infinitas no meu querer-bem,

é bizarra a ponto de Deus quase pendurar suas chuteiras.

 

Mas, mesmo assim,

com tantas rebarbas, fuligens e poréns,

é nela que ancoro meus dias,

é com ela que acaricio minhas lágrimas,

é com ela que renovo minhas andanças por aqui.

 

Mas, mesmo assim,

estão só nela meus anjos mais anjos,

vem dela a mão que mais me acode,

é com ela que vou até não poder ir mais.

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/12/2021
Reeditado em 22/12/2021
Código do texto: T7412538
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