ERA UM MODO DE BEIJAR, SEM BEIJAR...
ERA UM MODO DE BEIJAR, SEM BEIJAR...
(Autor: Ivan Corrêa)
Eu era criança...
Não tinha relógio que mandava em mim.
Outros me olhavam e morriam de inveja.
E me mandaram para a Escola...
Tinha um monte de gente que mandava...
Mandava calar, sentar e mandava aprender.
Até uns moleques graúdos mandavam...
E outros mandavam recado e ameaças:
“vou te pegar lá fora e quebrar a sua cara”.
Eu pedia ajuda até aos céus...
O milagre nem sempre vem na hora
Que a gente mais precisa dele; apanhava.
Eu já gostava das noites...
E meus olhos olhando o luar já rabiscava
Alguma poesia no meu pensamento juvenil.
Eu ouvia ao longe uns batuques...
Que nem havia de fato; ouvia chorosos fados...
Foi aí que meu coração já deu de doer de amor.
Em mim havia uma outra vida...
Outra vida escondida; que já sabia mais.
Parece que eu vinha de antes, de antes de mim.
Guri da minha idade...
Nem sabia olhar a lua; eu sim. E amava.
Daí que eu sei que já fui outros, muitos outros.
Escrever de sentimentos...
Era um modo de beijar, sem beijar.
De amar sem nem saber o que era amar.
Meu anjo da guarda...
Nunca foi dormir triste por peraltagens minhas.
É que eu nunca fui menino de verdade, nasci adulto.
A solidão me namora há tempos...
Eu amo namorar a solidão. Ela me dita poemas.
A gente combina; sentamos lado a lado e poemamos.
Não posso nunca deixar morrer...
Aquele guri que havia em mim, é de mim a melhor parte.
Daí que eu o cultivo; como cultiva uma orquídea, o Orquidófilo.
Eu já não reclamo de nada...
Se com bem mais de 50 o guri ainda me dita poesia.
Deitar-me-ei meu corpo e adormecerei eterno menino!