Virgínia (Sobre a ancestralidade do Vale do Jequitinhonha)
Divino agrado com seus terços sagrados.
Velha rezadeira,
também era santeira,
cantava suas dores,
alegrias e glórias,
lâmias de gestos puros,
memórias,
fé e alegria.
Era protetora,
sábia guerreira,
maga de bom coração,
afetuosas ações,
emoção e doação.
Apreciava a beleza das procissões,
oração que abraça,
a perseverança e a graça,
criava suas poções no rio que purifica...
São Margaridas, Virgínias
e muitas Marias,
com seus dons naturais,
suas curas divinas...
Mulheres de Minas
Curam as dores da alma,
as dores do corpo
e toda a carência,
são protetoras das matas,
das florestas,
das plantas,
rezam pela colheita,
e lindos oratórios enfeitam,
com seus vestidos de chita,
altares de santos
e violas de fita...
Encontram outras vias,
declamam suas liturgias,
são vozes,
entidades,
seres sagrados...
Manifestam bons presságios,
se banham nas águas dos rios,
jogam seus búzios,
são mulheres benditas
e também acuadas,
são as escolhidas...
E sofrem e lutam
e choram
e cuidam,
rezam para a Virgem
e para os deuses da natureza...
Estão espalhadas por todo o país,
criam suas alfaias,
oferendas nas praias,
rezam para o povo abandonado,
tiram o azar,
o olho gordo,
o mau-olhado,
curam a inveja,
o quebranto,
o cobreiro
e a brotoeja...
Seus rituais são de amor,
de fé e de cura,
são símbolos da nossa mistura,
da nossa cultura,
são curandeiras,
benzedeiras,
são parteiras,
são bruxas,
são feiticeiras,
são mulheres adoradas,
empoderadas,
cultuam memórias sagradas!
Possuem energias curativas,
rezas para germinar,
são emotivas...
Queimam suas ervas para a tempestade afastar!
Cura pela intercessão,
purificações,
superações,
aflições,
nobres atribuições...
São práticas de amor
São lavadeiras,
rezadeiras,
raizeiras, parteiras,
com seus encantos e cantos,
contentamento e muitos ensinamentos...
Vai pelejando,
curando, plantando
e, pelas suas mãos,
uma nova geração!
E mesmo iluminando caminhos,
ainda são perseguidas,
punidas ou impedidas,
seja na inquisição,
na anulação
ou na extinção,
seus valores são questionados,
seus saberes eliminados.
Poema do livro "País estrangeiro - Memórias de um Brasil profundo