QUILATE DIVINO
Amor, o que é o amor?
Com seus degraus duros,
dentes afiados, arremetidos.
Amor de braços envolventes,
por vezes quebradiço e vil.
Amor tão intempestivo,
trêmulo no picadeiro, no tempero, no unguento,
vento em brasa tanta.
Amor de chão irrequieto,
mambembe sem lar, sem dono, sem roteiro,
varanda linda que nunca cansa,
nunca abandona seu condão.
Amor, desfraldado e soturno,
sangue atônito sem lar, sem razão, sem eco,
que a gente espreme, entorna, faz o diabo,
e ele fica lá, firme e forte até sempre.
Amor, quilate divino,
de cabelos embaraçados, ferozes, desaprumados,
sedento por goles de vida, de qualquer vida.
Desse amor escrachado, encardido, capenga,
de cores que Deus como nunca se viu,
rei voraz da manada toda, da raça toda,
brincando de roda, de pega-pega, do que for.
Por vezes mal acudido, desesperado,
por vezes traíra, biscate, mundano,
por vezes pleno, repleto, ressuscitador.
Amor de pele aveludada, aguerrida, atrelada,
de andar ligeiro, certo, preciso,
de leme parrudo, combalido, arrematado,
Nele entoo meus dias, feliz tanto mais,
pra revoar seu canto com fé, com louvor,
com o que tenho de mais abençoado nesse mundo,
amém.