SACUDINDO O PORÉM
Falar do amor sem vírgulas,
num vento libertado e vasto,
num vão qualquer desse chão.
Essa coisa que imanta o tempo,
que desenferruja a alma,
que desarma o não, o talvez, o porém.
Amor, aprumado rio,
que nos imanta, nos refoga,
numa desenfreada luz.
Aprendi a amar com todas teclas,
mesmo as sujas e vadias,
mesmo as escassas e assustadas.
Entendi o amar com suas mãos surradas,
seus guizos aflitos, suas chagas berrantes,
com seus imãs cansados, seus versos puídos.
Já senti o amar com a fé escassa,
com o andar sedento, com o sim rarefeito,
com as rédeas roídas e difusas.
Hoje mais calejado e sacudido,
convivo com o amar sem ficar cabisbaixo,
sem ceder aos espinhos, sem ficar refém da dor.
Assim conseguimos nos abraçar aguerridos,
juntando nos pedaços, nossas estrofes mais belas,
nossas raízes mais divinas.