ELOGIO A FINITUDE
Meu tempo é o instante de hoje,
efêmero e restrito ao acontecimento incerto
do meu corpo na extensão do agora.
Meu tempo é o tédio do depois do almoço,
a angustia da noite mal dormida,
e a rotina que me enterra nos dias,
entre o trabalho e o gozo.
Não me interessa o futuro da humanidade
ou as ilusões do progresso universal.
Não sou feito de humanidades,
de reputações e rótulos.
Nenhuma razão me guia
ou me explica.
Não frequento os palácios do pensamento.
Sou raso, precário,
e quase invisível,
preso a uma vida
que aos poucos me escapa.
Não cortejo, portanto, verdades livrescas,
nem moral de rebanho.
Sou indiferente a ordem,
as autoridades, deuses,
e determinismos cósmicos.
Tenho orgulho de ser ilegível e insignificante.
E pouco sei sobre o universo,
os rumos do mundo,
ou sobre os tantos desastres produzidos por nossa condição humana.
Minha pátria é o esquecimento
onde habitam silêncios,
errâncias e desaparecimentos.
Meu destino é a morte
e o meu caminho a incerteza.