ELOGIO A FINITUDE

Meu tempo é o instante de hoje,

efêmero e restrito ao acontecimento incerto

do meu corpo na extensão do agora.

Meu tempo é o tédio do depois do almoço,

a angustia da noite mal dormida,

e a rotina que me enterra nos dias,

entre o trabalho e o gozo.

Não me interessa o futuro da humanidade

ou as ilusões do progresso universal.

Não sou feito de humanidades,

de reputações e rótulos.

Nenhuma razão me guia

ou me explica.

Não frequento os palácios do pensamento.

Sou raso, precário,

e quase invisível,

preso a uma vida

que aos poucos me escapa.

Não cortejo, portanto, verdades livrescas,

nem moral de rebanho.

Sou indiferente a ordem,

as autoridades, deuses,

e determinismos cósmicos.

Tenho orgulho de ser ilegível e insignificante.

E pouco sei sobre o universo,

os rumos do mundo,

ou sobre os tantos desastres produzidos por nossa condição humana.

Minha pátria é o esquecimento

onde habitam silêncios,

errâncias e desaparecimentos.

Meu destino é a morte

e o meu caminho a incerteza.

Carlos Pereira Junior
Enviado por Carlos Pereira Junior em 10/12/2021
Código do texto: T7404499
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