UM ÍCARO INFANTE

UM ÍCARO INFANTE

 

Quem vive pra o hoje,

Não sabe ser nada,

Pois na mocidade,

A semente nem fala.

 

Floresce os hormônios,

Na sede que infarta,

E sobram nos sonhos,

Dos totens sem carta.

 

Não tentem lembrar,

Do que não escrevo,

Nem tentem mudar,

O vestido e a modelo.

 

Quem vai desfilar,

Já vem no cortejo,

Se após seu andar.

Sobra o vinho do Tejo.

 

Então, vou pra o mar,

Questionar o meu zelo,

Que me faz Gibraltar,

Ser portal e desvelo.

 

Pois fui longe a voar,

Como um Ícaro infante,

Sem ter asa ou luar,

Sob o Sol fustigante.

 

Só planei no além mar,

Por um mundo distante,

Pois a estrela a guiar,

Fez de mim seu amante.

 

Porque o tempo é Senhor,

Muito além dos instantes,

Pois perpassa minha dor,

Com um sorriso arfante.

 

E por isso é que sou,

A soma dos repentes,

Que declamam o amor,

Até preso às correntes.

 

Todo humano é pretor,

Quando o bicho é gente,

Pois matar seu Senhor,

Faz ranger os seus dentes.