Eu ouço o aroma das manhãs....
O poeta encontra Deus
Quando se põe a levitar.
Levitar.... Poeticamente é
De voejar para as palavras.
Eu ouço o aroma das manhãs.
Sei a cor da voz dos passarinhos...
Sei ouvir os silêncios e uso abelhas
E beija-flores para desabrochar jardins!
As águas ainda me murmuram em latim...
É que eu venho de antes; de quando o azul
Intimavam as andorinhas; de quando o meu
Pai nem era meu pai ainda; mas eu já existia.
Eu sei tudo sobre o sortilégio das palavras.
E sei tudo sobre a insensatez das noitadas.
Eu sei fazer cócegas nos pés da madrugada.
Depois; eu falo sobre a boca da noite escura.
Tenho um perfume de jasmim na minha alma.
Acontece com quem tem um perdão no olhar...
Um perdão para cada paisagem; um canto para
Cada aldeia. Este sou eu levitando, adejando Deus!
Carrego na lembrança uma casa velha da infância...
É lá que mora a felicidade; todo o resto é falso, fútil.
No céu, sobre aquela morada, os anjos vestiam calças
Largas e zanzavam sobre a minha meninice; eu ria doce.
Se eu te contasse com a boca, sem que fosse por escrito,
Você hesitaria em acreditar, mas, eu falo com as flores.
A manhã nasce e me dita um poema; uma borboleta me
Colore o olhar; e peço as flores a se abrirem aos colibris.
Eu sou desses e todas as cores me abeiram; eu acredito
Que do alto alguém disse: “vá sê poeta e reinvente tudo;
Seja como um rio, floresça ao seu redor, seja morada de
Pequenos viventes frágeis, seja as manhãs de primavera.”
Sou desses e não quero nada sério mais, não quero saber
Sobre as bolsas de valores. Eu quero é quintal com frutas
Doces, quero uma cadela brincalhona, quero ter poderes
Que me façam voltar a menino e ter manhãs de pitanguás!
O poeta encontra Deus quando se põe a levitar e a sonhar!