BUCHO VIRADO

BUCHO VIRADO

Nosso bucho às vezes dói,
Mas dizemos que está virado,
Porque no nordeste há herói,
Mesmo sem prato ou guizado.

Como luxo de seca inclemente,
É achar a palma no cercado,
Sou batata do umbu indolente,
Que se junta ao juá tão amado.

Cada cabra já sabe ter fonte,
Pelas folhas de cada arbusto,
Ou na rama que cerca o monte,
E resguarda a flor e o matuto.

Na caatinga o bode é que tem,
O sabor que me lembra o mato,
Porque cada safra é o que vem,
Pelos dias de um sol invejado.

Mas a flor que nasce na encosta,
Vislumbra a chapada e o verão,
Sendo forte, se a tudo suporta,
E até mesmo se ver refeição.

É a sina de orquídeas e cactus,
Ao viver de um criar ilusão,
Se beleza não dá resultados,
Mas, nutrindo, tem toda razão.

Até quando o espinho é fato,
Luiz Cacheiro não é diversão,
Pois se acho no meio do mato,
Corro risco de ferir as mãos.

Mas prefiro o porco do mato,
Que conheço como catitu,
Pois seus dentes são o relato,
De um tempo de cobra e tatu.

Sou guará bem diante do pasto,
Com jaguatirica espreitando o anu,
Sussuarana com o bom olfato,
Carcará desprezando urubu.

Sou urtiga do corpo que arde,
E a pimenta do mel de uruçu,
Sou cocá no fim de uma tarde,
Lagartixa ao querer ser teiú.

Sou segredos da nau catingueira,
Escondidos nos rasos e grotas,
Barriguda com a água festeira,
Que serviu até pau de resposta.

Aqui tem chá pra bucho virado,
Para enjoo ou dor da fadiga,
Para a calma do corpo surrado,
No descaso da vida sofrida.