DESDE SEMPRE

Desde sempre eu sabia
que, algum dia, chegarias
sem preconceito de cores,
sem prenúncio de desgraças,
trazendo na carne estuante
uma ansiedade premente
de matar a sede ardente,
que te consumia em segredo.

Não há por que termos medo:
estamos a sós, meu amado.
Se te amo, se te agrado,
apossa-te do que te pertence,
mata a sede impaciente,
busca em mim o que te falta
e desperta a chama viva
que, quieta e silenciosa,
jaz no teu peito oprimida.

Nada mais importa agora
que o sumo prazer desta hora
em que nos quedamos vencidos,
lado a lado adormecidos.

Desde muito estava escrito:
desde ontem... desde sempre.