bonitezas do florescer
queria poder escutar os sons dos silêncios das flores
queria poder ouvir o barulho dos seus gritos de boniteza
a clarear os ares por andam elas nascem
queria muito poder enxergar o poder de suas cores
de tantas cores
mas são tantas !
queira poder me achar perdido
por entre os átomos dos seus perfumes
e colori a minha alma com seus aromas
queira muito poder viver
sob os rigores das tuas sabedorias
essas flores que fingem ser bestiais e tolas
que fingem ser inúteis
aos olhos dos idiotas de plantão
dos patéticos homens surdos e mudos
à nobreza do nascer das flores
por entre pedras, pântanos
pedregulhos e rincões
riachos e lamaçais
aos humanos com sua avareza,
com sua esperteza e arrogância
desprovidos da liturgia do existir das flores
portanto, queria ter o prazer de poder viver
decidir e sonhar
pelo menos um instante
inútil como todas as elas
já seria o bastante
pra deixar de ser fútil
vaidoso e vulgar
e me nutrir dos seus saberes
de ser sempre florescendo
desprovidas da ditadura dos preços
que avolumam os olhos mesquinhos
lhe imprimindo covardia aos olhares dos que não enxergam
mas as flores vão dançando
transcendendo os lastros vis, ocos e sem fertilidade
e servis aos ditames dos mercados famintos
dos consumos desmedidos
mas as flores insistem
em viver matizando sua sina
do devaneio poético
desprovidas das ventanias do dinheiro
do poder que só oprime
os homens com suas fomes insaciáveis
da tortura que lhe consome
da idolatria ao dinheiro
e seus desprazes vulgares
queria poder sentir o pulsar que irradia
imana e irmana o pulsar de cada instante
de ser flor com seu delírio
que o tédio dos homens
não entendem
por isso sobrevivem como vermes dos vermes
como escravos de outros nomes
como apagados dos seus lumes
como subalternos a outros infernos
onde vivem
em subsolos
da peregrinação
de se subtraindo como sub-humanos
rastejando e implorando as migalhas
farrapos maltrapilhos
descoloridos por razão
cansados e deprimidos
anêmico e sem vida
a iludir a des-razão
desses homens desvitalizados
enfileirados e sem perceber
que como cadáveres perambulam
sem se permitir sentir
o perfume das flores
sem se permitir sentir
as boniteza de suas cores
e com elas querer co-existir
dançando em sonhos tênues
da alegria oculta
do poder pulsa das pequenas coisas