OS MEUS FANTASMAS
Estava escrito na tábula rasa do tempo :
[ Tens que penar, para ganhar o sustento
do corpo e da alma
e viver a vida em plenitude.]
Penar, eu já penei!
Onde está a prometida plenitude?
Apenas um lampejo de felicidade assomou
Por entre a bruma cinzenta do meu ocaso
Como uma réstea de sol no solstício de verão
Quando o sol brilha mais tempo no céu
Mas para mim...
Femómeno raro que mal despontou, sumiu...
E apenas aqueceu a minha mão.
E me vi neste presente doído e contrito
Por entre gritos e vagidos.
Vagidos duma alma renascida!
Foram-se os fantasmas
Dum passado que já não existe
Eram ilusões mascaradas
Mofo, bolor, teias de aranha
Embotavam a visibilidade
Como pude ser tão tacanha!
Por isso eu distorci e confundi a realidade
E eis-me aqui, cruzando as pernas
No limbo entre a mentira e a verdade.
Tento manter o equilíbrio
Entre o corpo e o espírito
Entre o céu e a terra
Entre a paz e a guerra!
Os olhos desorbitam-se e agigantam-se
Vislumbrando pra lá do horizonte
E com os olhos de sangue marejados
Clamo por ti
E o grito prenho com o teu nome
Ecoa de monte em monte
Mas para quê?
Já não és o mesmo
Do tempo em que eu te amei
Já não sou a mesma
Do tempo em que te perdi
Qualidades que ganhei
Outras que ressarci
Defeitos que eliminei
Outros que adquiri...
Agora já não preciso provar nada
Todos os processos foram arquivados
Por bom comportamento em todos os costados
Basta-me ser apenas eu
Rosto lavado
Coração pela paixão torneado
Paixão de viver a vida que em mim não falece
Á mingua de amores mal engendrados
Em recantos por esquadrinhar
Virgens e inexplorados...
Elevados a Deus numa prece
Onde me dou por inteiro
Porque Deus não me trai
Ele é meu amigo verdadeiro!
Direitos de Autor
Maria Dulce Leitao Reis
11/04/14