EUNIVERSO
Móveis deletérios
que se movem ao meu redor,
sou o centro do universo,
tenho que ser o melhor.
Rearranjo minha órbita
dos astros que estimo,
nada que ponha desalinho
à minha lua em câncer,
só o que brilha em meu céu!
Eclipses apenas são bonitos
quando acontecem de dia.
Crio a vida como posso,
não tenho milenares anos
até voltar ao pó: aconteço,
no curso do meu meteoro
concurso público e desejo
- tudo que mereço –
e a possibilidade de posse.
Só habito onde sou feliz,
onde nada haja que me atinja,
os planetas se vão num estalo,
estou sempre em expansão
vivifico meus objetivos:
um teto em minha cabeça,
uma motocicleta na garagem
e um bom vinho na geladeira.
Aonde os universos vão
depois disso?
O lugar onde vivem os vasos
em que morrem as plantas,
onde descansam as músicas
que nunca se tocam,
onde se decomporão os títulos...
Onde pararão meus beijos
quando saem dos lábios?
Meus para-beijos, para-raios,
minha flor de maio, onde estarão
nossos abraços, nosso pra sempre?
Fui nomeado no Diário Oficial,
tenho curriculum lattes,
uma sala com meu nome,
responsabilidades legais,
reuniões que me chamam de senhor,
vou ao psiquiatra semanalmente,
tomo remédios para dormir,
o que vive e morre em mim
só eu sei meu universo
ao redor: móveis deletérios!