CERTEZA EMBRIAGADA
Me perdoa esse jeito cigano, essa cor difusa,
esse gosto áspero.
Me perdoa esse andar torto, essa mão aflita,
esse suor azedo.
Me perdoa esse chão seco, essa luz rouca,
esse voar rasteiro.
Me perdoa essa janela encardida, esse sono trêmulo,
esse sangue falho.
Me perdoa esse querer empacado, esse soar estranho,
esse semear manco.
Me perdoa esse respirar difuso, esse acolher mirrado,
essa dor puída.
Me perdoa esse cantar esfarelado, esse ter desfiado,
essa certeza embriagada.
Me perdoa esse sonhar desgarrado, esse arrematar gelado,
esse entender amotinado.
Me perdoa esse gozar desvalido, esse ouvir sacudido,
esse amar descoberto.
Me perdoa esse pensar aflito, esse construir bizarro,
esse escrever tresloucado.