ESCRITOS ESCROTOS
Meus escritos têm vida própria
chão próprio, deus próprio.
Se desfolham de mim sem medo,
sem culpa, sem razão, sem não.
São partes do que já untei,
já arrematei, já arrebanhei.
São tecos de sangue aguerrido,
de raça arteira, de chão cimentado,
Meus escritos por vezes são escrotos,
maltrapilhos, ranzinzas, tortos, descabelados,
desanuviados.
Por vezes também são reluzentes, perfumados,
robustos, lindamente avarandados.
Que meus escritos nunca esqueçam suas pegadas,
suas ranhuras, seus pólens, suas pétalas.
Que nunca deixem de tremular, alvejar,
acarinhar, amamentar, orquestrar.
Que nunca se amotinem, nem traiam.
Nunca se curvem ao medo, à avareza do pouco querer,
ao tédio pouco embalar, sobretudo à tristeza do pouco ser.