AUSÊNCIA
No meio do jardim, entre as rosas e as azaleias, havia um balanço vazio, levado pelo vento.
Seu movimento lembrou a minha infância, que ficara tão escondida nessas linhas em que vivi, que não sei ao certo o que foi real ou apenas ilusão.
Nesse jardim, havia alguém a caminhar e a observar meus passos.
Sorrateiramente, apressei meu ritmo, assustada.
Ele veio e disse: - Não tenha medo, posso sentir seu coração!
Naquele instante, uma parte de mim desmanchou-se em lágrimas:
- Por que demorou tanto?
E não houve resposta, além do barulho do vento e o balanço novamente, seguindo a direção a que era levado.
Assustada, pensei ter sido uma alucinação.
Talvez, apenas minha vontade de estar perto, de sentir a presença, o perfume.
As rosas pareciam exalar um perfume bem mais forte e mais próximo do que antes.
Meus sentidos estavam despertos, sem saber o motivo de tantas sensações e sentimentos.
Perdida, ainda ouvia aquela voz masculina, sussurrando ao meu ouvido, para que não temesse.
Pensei, o que não deveria temer?
Se desde sempre, o jardim esteve vazio, apenas o vento, as flores, o balanço, e eu?
Haveria algo ali, escondido, desde minha tenra infância, que não poderia ter sido revelado antes?
Ou tudo, apenas alucinação misturada à ingenuidade de criança?
Sentei-me no balanço. O vento soprou em meus cabelos e o perfume das rosas entrou vagarosamente pelas minhas narinas. Volta e meia me deixava anestesiada, embriagada, em lembranças, em esperanças.
Levantei.
Olhei ao redor, havia uma sombra masculina.
Tentei me aproximar, para ver de onde vinha aquele reflexo.
- Oi !
Apenas silêncio...
Só posso estar sonhando acordada!
Nesse momento, meu corpo sentiu um pulsar acelerado do meu coração.
Abri meus olhos e vi.
Eu estava na minha cama, sonhando.
Tudo parecia mesmo igual, inclusive as lembranças.
O perfume insistiu em invadir a realidade do meu espaço.
Acordada, olhei pela janela.
Havia uma rosa.
E o silêncio.
E de tudo, enfim.
A ausência.