LABAREDAS DO CORAÇÃO

Meu canto é suculento, abusado, aguçado.

Fatiado com fervor, temperado de quero mais,

segue suas próprias pegadas sem pestanejar.

É canto sarado, cicatrizado, vasto,

por vezes vacila no andar, no entender, no acolher,

por vezes desafina, descabela, se amotina, se trinca.

Nesse canto solitário, parrudo, certeiro,

faço valer as vogais e consoantes da alma,

faço reinar o que tenho de mais desnudo, mais belo, mais meu.

Um dia esse canto perderá a cor, o brilho, o viço,

um dia esquecerá o nome, a matiz, o chão,

um dia acordará atônito, embaralhado, esgarçado.

Então só me restará o caminho de parar seu galope,

só me sobrará a partitura de desligar as labaredas do coração,

só me restará a certeza da feitura do lastro, do arremate, da missão.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/04/2021
Reeditado em 25/04/2021
Código do texto: T7240630
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