LÁPIS E ASTROLÁBIO

LÁPIS E ASTROLÁBIO

Peguei um lápis fervendo,
De dentro da terra em larva,
E ardia o enxofre escorrendo,
Na seiva e grafite que guarda.

Com ele escrevi meu passado,
Em pleno arder das estrelas,
Se formando no meio do espaço,
Num fogo de muitas centelhas.

E assim meu lápis foi lenha,
E facho de letras num prólogo,
Ardendo o pensar que convenha,
Se o livro só dá até logo.

Mas tudo descrevo na arte,
Mesmo se eu fluir labaredas,
No céu de nuvens escarlate,
Ou até a andar nas veredas.

Então vou buscar o presente,
Enquanto o futuro dormita,
Mesmo que me ache contente,
Pois meu coração tanto grita.

E lá estará meu rascunho,
Ou mesmo um oculto diário,
Transcrito de próprio punho,
Na régua do meu astrolábio.