AFINAL NÃO ESTOU SOZINHA
É dia, o sol brilha, o ar é morno.
Quando a noite chegar,
é que vão ser elas!
Eu tenho medo da noite...
Bebo café forte sem açúcar,
preciso sentir alguma acidez
dentro de mim,
como forma de me castigar
por ter sido tão doce
toda a minha vida.
De que me valeu tanta doçura?
Deixei-me esquecida num canto
para acudir aos outros.
Dei-me por inteiro,
escondendo as minhas dores na gaveta.
Quando me lembrei delas
abri a gaveta, estava sozinha...
Desandaram todos!
Onde estão aqueles que eu ajudei?
Refastelando-se á sombra da ingratidão,
chupando os bombons
das suas conveniências,
sem se preocuparem
se eu estou bem ou mal,
sem se preocuparem
se eu estou só ou acompanhada,
sem se preocuparem minimamente comigo.
Excluo quem já não está aqui
para me poder animar...
E eu estou aqui sozinha,
doente, amedrontada,
tendo apenas como companhia,
os meus três cães.
Mesmo assim
e vendo as coisas por este prisma
dou graças a Deus,
porque há quem não tenha sequer um cão!
Perdoa-me Senhor,
Eu acato os teus conselhos
afinal estou exagerando,
eu tenho três cães,
Para me fazer companhia
há quem não tenha nenhum.
Eu ainda tenho
quem se empoleire nos meus joelhos
e me lamba as mãos!
©Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 12/04/21