FORA DE ÓRBITA
Reguei as flores, cortei a relva
E o cheiro fresco e adocicado
Pairava no ar e dilatava-me as narinas
Há cheiros do meu agrado
Que me vêm do meu tempo de menina!
É mágico e inebriante
O cheiro a terra molhada
E a erva ceifada
Ao mesmo tempo é relaxante.
Deitei-me no pensamento
Ajeitei as ideias na cabeça
E comecei a pensar
E se eu fosse viajar fora de órbita
Talvez acalmasse este ardor no meu peito.
Dito e feito, mãos á obra!
Passei pelas nuvens
De várias cores e feitios
Pela chuva e pela trovoada
Pelo arco íris e pela lua
E pela revoada de colibris.
Fiz marcha á ré
E fui bem perto do sol
Fui a Mercúrio e a Vénus
Entrei pela variante da Terra
E percorri a Via Láctea
Dei um pulo a Marte e a Júpiter
Estava tudo fechado
Fui tomar café a Saturno
Sentada num dos seus anéis
Almocei em Urano
E ouvi cantar o Fado
E em Neptuno jantei lulas á sevilhana
Fui dormir a Plutão
Aqui o frio era desumano!
O meu peito abriu-se em chama
O ardor transformou-se em fogo
Foquei o olhar na Terra
E vi-te no meio do meu povo
Brandindo um galho florido de jasmim
O perfume chegou até mim.
Fiz-te sinal mas não me viste
O fogo da saudade já toda me consumia
Procurei um rio mas não havia
Avisei o pensamento e parti
Precisava de água pra me acalmar.
O teu amor é ouro
E o meu não vai acabar
Lancei-me nas águas do Douro
Mesmo ao pé de ti!
©Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 10/04/17