PRAZO DE VALIDADE

Às vezes

Dou comigo a pensar

No dia da minha morte.

Não pense que é por morbidez

É porque a idade está avançando

E torna-se inevitável não pensar.

Estou em paz comigo

Mas é difícil desapegar-me da vida

Deixar aqueles que eu amo

E me amam.

Tenho que limar melhor

As arestas do desapego.

Quando vimos a este mundo

Trazemos um prazo de validade

Não está rotulado na embalagem

Pois cabe a nós

Tentar manter o invólucro

Bem como o conteúdo

Em bom estado de conservação

E armazenamento.

Tenho procurado seguir os objetivos

A que me propus

Não me desviando dos princípios

Que asseguram a minha paz interior

Contornando se necessário

Mas essencialmente

Repudiando tudo o que prejudica

O meu equilíbrio.

Não estou isolada no mundo

E como tal

Procuro que a engrenagem funcione bem

Defendendo os direitos do ser humano

Dos animais e do planeta.

Se cada um fizer a sua parte

Porque cada um de nós

É um dente da roda dentada

Teremos um mundo perfeito e lindo.

Sabemos que não é assim

Porque outros interesses se levantam

E gritam sem alma

Até que os nossos tímpanos estourem

E então ficamos surdos

E não ouvimos o tiroteio que varre o mundo.

Afastei-me da minha ideia inicial

No entanto, é normal.

Tudo nesta vida está encadeado

Formando uma corrente sem fim.

Eu estava a falar sobre a morte

E devemos fazê-lo naturalmente

Porque essa é a única certeza

Que temos nesta vida terrena.

Quando eu morrer

Não quero que chorem

Não quero flores

Nem ser carregada nos ombros.

Não precisarei de mais nada daqui.

Só levarei guardado na alma

O riso e as flores

Que partilhámos em vida.

Na vida

Tentarei não ser um fardo para ninguém

Não quero sê-lo depois da morte.

Expresso aqui a minha vontade

Quero ser cremada

E só quem me amou

Com pureza nos olhos

E doçura na boca

Poderão tocar a urna das minhas cinzas

E lançá-las ao vento.

As cinzas humanas

São ricas em minerais

Servirei para fertilizar os campos

Os rios, os mares!

©MariaDulce Leitao Reis

copyright 26/03/21

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 28/03/2021
Código do texto: T7218066
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