A taça
Na noite em que nasci
Não se foi a escuridade
Nem no dia que morri
Negreceu a claridade.
O que estava aqui ficou
O céu seguiu de azul
O Sol não se apagou
O Norte não virou Sul.
Sei que passei por aqui
Sei que amei e desdenhei
Sei que chorei e sorri
Sei que vivi e sonhei.
Na incerteza dos caminhos
No viver desconcertado
Não adoptei pergaminhos
Não quis o livro assinado.
Não marquei o meu lugar
Não leguei o meu pecado
Não quis esta alma salvar
Não me colei no passado.
Num outro lado me vejo
Noutro inverso deste norte
No lugar onde um só beijo
Numa taça me dá morte.