Minha querida caneta.
Minha querida caneta.
Não sei que me deu quando resolvi abrir a gaveta.
No fundo, um pouco esquecida repousava uma caneta.
Coitada, com o tempo foi substituída por esferográficas.
Linda, elegante e artística, sorria e pedia para ser usada.
Tinha sede e ao tinteiro a levei a beber.
Agradecida acariciou a minha mão e disse ao meu ouvido:
Vamos passear no teu esquecido caderno.
Convite aceite. Há tanto tempo que nele não escrevia.
Na folha em branco, letras lindas surgiram.
As palavras sucederam-se num ritmo em crescendo,
As linhas ganharam vida enquanto o aparo bailava.
E a caneta escrevia sobre o sol que nascia,
Sobre as folhas que esvoaçavam, sobre o riacho que corria.
Descrevia o riso das crianças, o trinar dos pássaros,
O zumbido das abelhas e o murmurar das searas.
Escreveu sobre os amantes que se beijavam,
Sobre as carícias que trocavam e os orgasmos que gritavam.
Segredou-me as mensagens que o vento lhe contou…
Pediu-me segredo sobre as confissões dos amantes,
Sobre traquinices das crianças e sobre todos os beijos roubados.
Relatou-me viagens fantásticas, paisagens exuberantes e…
Juntas cavalgámos as ondas, abrimos asas e voámos.
Ensinou-me a olhar as estrelas no seu leito negro.
E esse negro nada era mais do que um manto de diamantes.
Minha querida caneta como te pude esquecer?
Prometo-te… a partir de hoje não mais deixaremos de passear
E no nosso caderno, juntas continuaremos a sonhar.