suicídio
Suicídio.
Pelo beiral da minha casa uma gota de chuva suicida-se.
Considera-se menos importante que o aguaceiro.
Perdeu o ritmo das suas irmãs, atrasou-se… coitada!
Convenceu-se de que nada valia e perdeu o ritmo.
No seu desânimo perdeu o interesse na vida.
Convenceu-se de que nunca chegaria ao mar…
Ao rio… à ribeira… nem sequer ao pequeno regato do quintal.
Pobre gota de chuva… tinha toda uma vida pela frente,
Bastava um pequeno esforço e teria sido regato,
Crescido e ser uma ribeira, umas léguas à frente rio.
Sem se aperceber teria sido mar, percorreria os oceanos.
Que pena… o desânimo tomou conta de si…
Não conseguiu lutar… evaporou-se… suicidou-se.
Bastava ter-se deixado cair, as suas irmãs esperavam
E ela não chegou. As outras choraram e partiram.
O mundo não terminou, o regato continuou a correr
Tornou-se ribeira, engrossou e foi rio,
Continuou a crescer e foi mar… oceano.
Pobre gotinha triste… não conseguiu pedir ajuda,
Isolou-se… chorou em silêncio… adoeceu,
E num lamentável suicídio evaporou-se…
E todas as suas irmãs choraram, gritaram, lamentaram,
E numa última e sincera súplica em uníssono desejaram:
Que mais nenhuma gota se suicide, que a tristeza nunca mais vença,
Que toda a gota chegue sempre ao riacho mais próximo
A partir daí todas chegarão ao mar.
Que voltem todas as que se evaporam,
Que gotas voltem a ser e, que do planeta todas venham cuidar.
E a gota teve nova oportunidade, nova vida, dizem alguns.
E hoje brilha no cimo de cada onda, no leito do mar.