AO MEU PEITO

Grita, alma,

canta alguma coisa;

peito, acorda,

nunca mais, peito, adormeças,

nunca mais tu permaneças

na preguiça do sossego

d’alma quieta, tão vazia

das pessoas incolores

que transitam pelas ruas,

que vegetam pela vida.

Peito, balança,

trepida, apaixonado,

rebenta em teus fervores,

com paixões da adolescência,

com loucuras, mil afãs,

com entregas quixotescas.

Peito, arde

com o fogo adolescente

da primeira entre as orgias,

da primeira entre as volúpias.

Alma, canta

a mais serena das cantigas,

mais suave dos amores,

os mais brancos dentre os sonhos,

as mais alvas fantasias.

Coração, acorda,

pulsa feito aos vinte anos,

bate no frenético delírio

dos amantes romanescos.

Verso, luta

pela mais tola das causas,

mais utópico motivo

e o direito de voar.

Canto, luta,

pra mostrar que em ti há sangue,

pra mostrar que em ti há vísceras,

pra mostrar que em ti há vida.

1989

Revisto e modificado em 2021

Barão da Mata
Enviado por Barão da Mata em 12/03/2021
Reeditado em 19/02/2023
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