A FICÇÃO VERAZ
A madrugada é um moinho mórbido
persigo o alter ego entre palavras e
o zumbido dos mosquitos.
Cumprimos a sina de sobreviver
destilamos aço nos nervos
entre silhuetas e pálidos cansaços.
Concessivos, incapazes pirilampos
zunem em nós asas e sons
azoando trevas, sonhos abissais.
Verme impotente, insisto na seara
pronta para a colheita: amealhar
ideias sob signos e nus esqueletos.
Desta sorte alçam voo trôpegos
silêncios. Mão trêmula, avara, lavra
sua falácia solitária: singular fórmula
votiva em músculos e ossos.
Novas verdades cochicham ao futuro
sumo destilado de inventadas falsidades
inocentes fragmentos de invenções
e o sonho de sentir-se dourado
ao sol também maduro.
Farsa de vícios, a sincera renúncia
o desossar do ilusório ofício:
falar menos e dizer muito
até sobre o inseto e a larva morta.
MONCKS, Joaquim. A MAÇÃ NA CRUZ. Obra inédita, 2017/21.
https://www.recantodasletras.com.br/poesias/7205220