TÚRBIDO
No azo deste dia no calendário
que são as palavras
senão palha de aço
ariando a ferrugem da panela?
A palavra não é ela!
O que são as práticas
das coordenadas de flores,
dos ritos dos amores
ou mensagens cheias de cores?
A prática não é ela!
O que são os atos plásticos
com encenações exageradas
de gratidões desencontradas
que se exibem em galerias?
O ato plástico não é ela!
Ela é cabeça, tronco, membros,
corpo e sangue nas veias,
é consciência e pensamentos,
existe na beleza e no CPF.
É o que quer e o que não queira,
é o trabalho, a família, a ceia,
diariamente desvanece
nas manchetes, classificados,
no romance de guerreira.
A gratidão é hipócrita!
Que as leis de proteção funcionassem,
que os direitos civis fossem justos,
que a liberdade não fosse um pedaço de papel
cujo burocrata enxuga a testa
depois de legislar sobre o corpo;
Essa gratidão são promessas vazias
que vem depois do tapa!
São como essas palavras
que se lê e se cospe,
ou a nota fiscal
de compra das flores,
chocolate ao menos se come;
é provável que este poema
esteja completamente errado
e eu só lance em versos
as feridas que vejo abertas.
Não entendo de suas almas
tampouco do que passam,
então qual significado
de um poeta feito eu
escrever hoje ou em maio?
O colorido das frases bonitas
deixo pros outros,
certeza que encontrarão
muitos corações vermelhos
e flores cor-de-rosa.
Este poema já disse a que veio,
amasse-o e queime-o.