OS LOBOS
Sinto raiva de não ter sido quem sou
Arranco frenéticamente pedaços de mim
E não sei por onde vou
Mas sei que não sou assim.
Lanço os bocados meus, aos lobos raivosos
Que me seguem na peugada
Ávidos de sangue e gulosos
Ao verem-me assim esquartejada
E a seiva da vida de vermelho pintada
Vai pingando ao longo da estrada
Criando um cenário dantesco
Transida de pavor pelos seres que me perseguem
Em traje carnavalesco.
E já minguada de carnes
Vou fazendo o trajeto aos esses
Como uma cobra empanturrada
Num fim de tarde encalorada.
Tenho medo de caír...
Mas caír não posso, é morte certa.
Uma bela sobremesa, do que de mim resta.
Invento forças
Estanco o pingar com a minha ousadia
E no limiar da minha agonia
Atarracho os implantes voadores
Que houvera gerado em altos valores.
Ai os lobos quase no meu encalço
Sedentos e loucos pelo cheiro quente
Do meu sangue esparramado.
Os olhos brilhando com faíscas de morte
E batendo o dente, começam uivando
E eu consigo fugir á minha esquálida sorte.
Eles já estavam no meu flanco
E numa situação emergente e derradeira
Não havia muito que pensar
Prego a fundo e que alívio.
Consegui uma bela dianteira
Graças ao influxo das asas de seda e diamante
E que me libertarão daqui em diante
Não serei mais escrava doravante.
Agora sim, atrevo-me a olhar pra trás
Os peçonhentos malvados
Jazem inertes no lamaçal que criaram
Com o meu sangue derramado!
©Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 17/04/14