"São Paulo Não Pode Parar"

Uma grávida cai do busão

Que atropela um motoboy apressado

Que desmancha o penteado

Do punk do furgão

Que foge assustado

Que se choca na contramão

Com a Iracema na calçada

Que trabalha de camelô

Para pagar o vereador

Que atrapalha a passeata

Que atrasa a ambulância

Que leva uma infartada

Que faz penitências

Para pagar o dízimo

Que o reverendo prega

Que Deus é íntimo

Que o caos ecoa

Que o político nega

Que uma jovem avoa

Que resolve a vida

Que deixa filhos e dívidas

Que cai sobre um transeunte

Que mora distante

Que acha uma bala perdida

Que assalta um motorista

Que é seqüestrado

Que atropela um ciclista

Que distribui panfletos

Que tem remédio para o perigo

Que agasalha um mendigo

Que veste a camisa do candidato

Que resolve a enchente

Que afoga a gente

Que paga o dízimo

Que prega o vereador

Que o diabo é íntimo