Kafka
Me sinto neto de Kafka
ou filho de Gregor Samsa
estranho e inexplicável
vulnerável em mim mesmo.
Quem sou eu?
Me construo por Caetano e por ele glorifico minha fraqueza
diante do meu passado e alegria
que no caminho do tempo eu deixei cair
Sabendo do risco e me acorvadando por isso, não sou nada
nem pra mim nem pra ninguém.
Vaso chinês em casa moderna
Disco velho. Roupa rasgada.
Na cama negra, rolo a noite inteira de angústia e dor.
Bebo uma coca e tudo bem.
Me olho no espelho e vejo dois olhos, pobres e miúdos,
perdidos numa ciranda de perguntas...
Já sei as respostas...
mas corro porque sei que não posso enfrenta-las!
E assim me perco em Kafka.
Como num sonho estranho, agradeço a minha metamorfose odiosa.