Os campos floridos que o tempo adormece
Os campos floridos que o tempo adormece,
Os vultos sombrios o coração não esquece,
As brumas em tuas faces que não fenecem,
Em vão perscrutamos a infância perdida
Naqueles risos sob purezas entardecidas.
Levante-se, amigo! Sigamos sozinhos ao léu,
Os martírios da vida comparo à noturna dor,
Ao mistério inquebrável deste triste signo: amor,
Desabrochado em nossas lágrimas silenciosas,
No sangue desta tarde inquieta e tão dolorosa.
Quem somos? Embora não saibamos, somos nós!
Através das perdas novos rostos em nós crescem,
Através das chuvas brota uma frágil e tensa voz
De nossos erros e dos esgotos que ainda florescem
As sombras que descem e voltam dentro de tua foz!
Resta uma oração, o gemido perdido enfim volta
Escondendo o beijo, as carícias, o ciúme e a revolta.
Enquanto paira e machuca e quase não se sente
O amor perdido que o coração jamais esquece
Nos campos floridos que o tempo engana e adormece.
(Gilliard Alves Rodrigues)