Os campos floridos que o tempo adormece

Os campos floridos que o tempo adormece,

Os vultos sombrios o coração não esquece,

As brumas em tuas faces que não fenecem,

Em vão perscrutamos a infância perdida

Naqueles risos sob purezas entardecidas.

Levante-se, amigo! Sigamos sozinhos ao léu,

Os martírios da vida comparo à noturna dor,

Ao mistério inquebrável deste triste signo: amor,

Desabrochado em nossas lágrimas silenciosas,

No sangue desta tarde inquieta e tão dolorosa.

Quem somos? Embora não saibamos, somos nós!

Através das perdas novos rostos em nós crescem,

Através das chuvas brota uma frágil e tensa voz

De nossos erros e dos esgotos que ainda florescem

As sombras que descem e voltam dentro de tua foz!

Resta uma oração, o gemido perdido enfim volta

Escondendo o beijo, as carícias, o ciúme e a revolta.

Enquanto paira e machuca e quase não se sente

O amor perdido que o coração jamais esquece

Nos campos floridos que o tempo engana e adormece.

(Gilliard Alves Rodrigues)

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 29/12/2020
Reeditado em 29/12/2020
Código do texto: T7146843
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