PEDAÇO
Eu não conheço mais as suas roupas íntimas,
a sua cama que não posso chamar de minha.
Com os seus pés eu vivi o melhor desta vida,
fui um rei no seu país; e você, a única rainha
das horas abundantes e também a da ladainha
dos dias, dos ruídos que um a um se alinham
na máquina de moer almas e carnes da rotina.
Eu aguardava o momento quando você sorria,
entre uma canção antiga e o gole da sua bebida.
Os domingos estão muito cruéis, pois lastimam
todo o desperdício de não estarmos na cozinha
— reto atrás de você e as quatro mãos sobre a pia.
A segunda será pior sem a ressaca da nossa alegria.
E na tarde ametista, a saudade é o amor que fica.