LEITURA

Já não leio mais poesia.

Ouço o que me conta o vento

raspando folhas secas no asfalto,

me agacho para escutar as joaninhas,

elas riem e dançam e não precisam lavar roupas;

engraçado pensar que somos todos iguais,

a árvore, eu, você, essa cigarra e essa canção...

O primeiro amor foi uma biblioteca,

o segundo, a folha de papel, branca,

o amor de toda a minha vida,

a poesia nascendo pelo grafite,

entrando pelos olhos e morando

na ensolarada mansão

dentro da minha cabeça...

Sigo o que dizem as flores, sem pressa,

presto atenção no vozerio da chuva

na janela do meu quarto,

descobri que as palavras

estão nos ninhos,

explodem como rojões no céu,

saio de onde estou e sei que estou

com cada átomo, agora e para sempre.