ESTRADINHA ABERTA

Queria que Deus viesse até aqui em casa,

visse a geladeira vazia, a cadeira quebrada,

o papagaio triste, no teto o buraco espiando,

a gente quer que acabe, só não sabe quando...

A tristeza, oferecida, me dizendo - chora!,

a alegria me pedindo um sorriso, do lado de fora,

a fruta murcha na mangueira, nem coaxa o sapo,

o alumínio brilhando, feito espelho, o vazio prato...

Ao longe a cidade enfurecida, devoradora, grita,

dos utensílios mais bonitos, eu acho a marmita,

o homem só precisa de muito amor e bondade,

se não der, que ofereça um pouco de piedade...

Vejo gente passar por aqui com passos miúdos,

ouço passos no céu, dentro do aço, os graúdos,

a diferença entre miséria e fartura é a compaixão,

dizem que vive escondida lá dentro do coração...

Quem pensou em mim foram os passarinhos,

trouxeram sementes que sobraram nos ninhos,

fiz minha horta, plantei de tudo, até manjericão,

tudo brotou, verde, bonito, reguei com o coração...

Há sempre uma estradinha aberta para teus pés,

pegue na mão do sol e mostre ao mundo quem és,

salte os obstáculos e guarde em sua memoria

que após a derrota virá o dia da vitória...