SENHOR DOS MARES

Um dia sonhei que era um barco,

pequeno, arrojado, de tez negra,

ancorado no porto da alma,

pronto para os mares do mundo,

e veio o vento e fui lançado

as tempestades e bonanças,

a lua a soprar minhas velas,

comi e não me engasguei,

espinhos ensinam o que é dor,

aceitei o vergastar do sol,

a mão suave da brisa,

o espiar dos tubarões,

o barco se troca,

a alma fica,

os fios da barba cor de prata,

o corpo tenaz na conduta da vida,

fui pirata, náufrago, sobrevivente,

só não deixei o sonho partir,

eu aceitei os pesadelos,

desatei o novelo do destino,

me tornei homem dos mares

mas nunca deixei de ser menino.

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