CHEIA DE VIDA
Para que pudesse enxergar dei olhos à poesia,
a fiz ver os homens como móveis usados,
reparar no rio que corre levando nossa alegria,
na margem esquerda um coração engastalhado...
Que ela saísse dos aposentos do amor,
que viesse às ruas ver os viajantes a lugar algum,
reparasse e colhesse a mais maltratada flor,
que somasse quantos passassem, não daria um...
Arranquei de seu coração dolorido os gritos,
pus suave unguento onde houvera feridas,
mostrei a destruição de totens e mitos,
a face real apareceu, pálida e estarrecida...
Soube ela, então, a condição humana em servidão,
trocada por pedaços de papéis, bolsas bem fornidas,
ela, que pensara estar em bela e eterna mansão,
renasceu, viscosa, úmida, arfante, cheia de vida...