CISCOS

Fiz como o cisco,

varei noites, corri riscos,

subi no parapeito,

não pra cessar os batimentos no peito,

mas, para ver direito

o rio fazendo a curva,

o plantador de uva

em sua colheita matinal,

para ver o brilhos nos olhos da criança,

o bem vencendo o mal...

Fiz como o cisco,

me abracei a tempestade,

vivi os excessos da vontade,

rodopiei no coração do ciclone,

subi no alto do morro,

ouvi o grito de socorro,

me engastalhei no gatilho do miliciano,

o pobre homem pagava um plano

para ter gás, luz e proteção,

voei sobre queimadas que devastam o cerrado,

cisco que sou pousei sobre um peito humano,

bati, anti-musical, com este coração,

um movimento de violino em desilusão,

o vento foi dormir,

me deitei no chão,

sob a lua a luzir...