Ninguém impede o passo do Tempo
Por que rio, Florinda?
Rio porque é bom
- Ninguém impede o passo do Tempo -
Rio também pelos teus seios já começando
A perder a luta
Contra a força da gravidade
Apesar do teu nome, flor ainda
Não devia rir, Florinda, sei
- Ninguém impede o passo do Tempo -
Devia era fazer um poema para ti
Para teus seios cadentes
Para a ásia acumulada nos teus dentes
Depois de décadas de péssima escovação
E um poema
Para as meninas de seios minúsculos
E um poema para os aleijados
Simulando corcovas
Homens-sapos esmolando
Arrastando-se pelo asfalto das ruas centrais
E um poema
Para os rapazes que não cresceram, rapazes Peter Pan
E para as mulheres com meia dúzia de filhos
E nem meio emprego nem ração do governo
Eu devia fazer, Florinda!
Faço não. Fico é olhando, Florinda,
Olhando e rindo nervosamente
- Ninguém impede o passo do Tempo -
Dos teus seios já começando a perder o jogo
Contra a força da gravidade
Apesar do teu nome, flor ainda
(Belo Horizonte, MG/1970)